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segunda-feira, outubro 29, 2018

Obrigada, Democracia!


Sou grata a todas as pessoas que lá nos anos 1960 e 1970 foram para as ruas defenderem o meu país. Pessoas que foram torturadas para dar a esse país a liberdade que ele tem hoje. Tantas mães que não enterraram seu filhos, que não viram suas filhas voltarem para casa. Sou grata a todos e todas que lutaram contra a ditadura, e permitiram que o dia de hoje existisse.

O dia de hoje pode ser um divisor de águas no Brasil. O dia que pode nos tirar a democracia que tanto lutamos para ter. O dia em que a maioria acha que o ódio por um partido é maior do que o bom senso.

Serei sempre pela democracia, pelo respeito ao próximo, pela vida sem violência. Serei sempre pela cultura, pelo esporte, pela igualdade de gênero. Serei sempre pelo fim do preconceito, pelos direitos dos animais, por uma vida melhor para todos.

Serei sempre palavra. Serei sempre liberdade de expressão. Serei sempre pela luta pelo jornalismo ético e reflexivo.

Serei sempre pela gratidão a todos e todas que lutaram para eu poder ser quem eu sou.

Por tudo isso, serei sempre resistência.

sábado, outubro 27, 2018

Resitência


Minha primeira lembrança política é de 1984, com as Diretas Já. Eu era muito pequena, mas lembro da comoção do meu pai com o assunto. Acompanhamos juntos a eleição indireta para presidente, e perguntei para ele "quem é melhor, o Tancredo ou o Maluf", e ele respondeu "O Tancredo é o menor pior". Meu pai largou o Exército meses antes do Golpe de 64. Eu mal sabia ler e ele já me explicara o que era a ditadura. Nasci durante o regime militar, e minha infância foi na transição para a democracia. Lembro da minha mãe em filas gigantes para comprar um quilo de carne; lembro dos milhares de planos cruzados e cortes de zero na moeda. E lembro do meu pai chorando ao votar pela primeira vez, em 1986, para Governador. Ele morreu antes de votar para presidente, em 1989.

Por outro lado, minha avó (mãe da minha mãe) era getulista e brizolista. Votou até o fim da vida e, quando eu era adolescente, volta e meia discordava de suas opiniões políticas.

Mas o ápice da minha vida política foi aos 12 anos de idade. Falei para o meu pai que eu era socialista e que Mikhail Gorbatchev era o cara. Eu queria mudar o mundo. Eu achava que podia fazer a diferença.

Cresci em uma família de homens e mulheres machistas. O racismo também faz parte da minha vida desde sempre. Quando dizia que era negra (na minha certidão de nascimento está escrito que sou branca), a família ficava incrédula. Quando defendia que mulheres têm os mesmos direitos que os homens, ninguém me apoiava.

Sou filha única, então escolhi entre os meus amigos e amigas aqueles que seriam meus irmãos e irmãs. Respeito a opinião de todos, e acho fácil gostar de quem pensa como eu: difícil é gostar de quem é diferente de mim. Porém, há algumas escolhas que me deixam tristes, especialmente vindo de pessoas que defendiam causas que julgo importantes.

Tenho muitos defeitos, inclusive volta e meia me pego falando algo que pode soar preconceituoso. Justo eu, que sempre fui defensora das minorias, ainda que não sejamos mais minorias, né? O mundo mudou, e eu tento de verdade julgar menos o outro (embora seja julgada 24 horas por dia nas redes sociais). E neste momento em que o mundo está num julgamento agressivo, refleti qual deveriam ser as minhas palavras sobre o tema.

Segunda-feira talvez não seja um lindo dia para muitos, mas o que importa é que algumas pessoas que eu quero bem não me pediram explicações, não quiseram saber o meu voto , não me marcaram em suas publicações nem julgaram minhas atitudes: elas sabem perfeitamente quem eu sou, e isso não tem preço.

Na dúvida, vai aqui o reforço: continuo contra qualquer preconceito; continuo sendo feminista; continuo gostando de futebol que, dizem, é coisa de homem. Continuo fazendo a limpa no Facebook não por questões políticas, mas por questões de falta de 'simancol' mesmo. Continuo sendo a pessoa que defende a cultura como algo tão importante para o mundo como qualquer outro assunto. Continuo sendo a pessoa diferente da família, e que até a família teve que aprender a aceitar.

E serei sempre resistência, porque resistir é para os fortes. E força é algo que nunca me faltou.

segunda-feira, outubro 22, 2018

Pronto Falei



Algumas pessoas são importantes em determinados momentos da nossa vida. Mas elas passam. Outras são igualmente importantes em alguns momentos da nossa vida. Mas elas ficam.

Desejo imensamente que algumas passem, que possam seguir seus caminhos, lembrando que fizeram coisas que me magoaram e que eu não gostaria de tê-las por perto novamente. Porque é preciso ter o discernimento de seguir adiante, deixando para trás aqueles (e aquilo) que não nos fazem bem.

Tento, de verdade, perdoar e esquecer. Esquecer. E esquecer. E seguir em frente porque não quero remoer algo que me decepcionou tanto, e que hoje não faz mais parte da minha vida.

quinta-feira, outubro 18, 2018

Jornalismo Cultural

Quando fiz a transição do jornalismo econômico para o cultural, ouvi que 'escrever sobre cinema qualquer um faz'. Esse menosprezo que existe em relação à cultura está mais vivo do que nunca. Quem trabalha com cultura é visto como 'de esquerda', 'comunista', e por aí vai. Gastronomia, por exemplo, nem é considerada cultura quando, na verdade, a comida de um povo é sua maior identificação. Eu mesma me sinto 'menor' diante dos meus colegas de profissão que trabalham com política ou economia, por exemplo. Ainda penso que decepcionei muita gente ao caminhar para aquilo que eu mais amava - cinema e gastronomia - porque tinha potencial para voos mais altos no chamado 'jornalismo de verdade'.

Hoje, quando alguém fala que sou famosa, fico bastante chateada, porque entrevistar gente famosa mas me traz fama e esse jamais foi o objetivo da minha vida. Sou jornalista, daquelas que faz apuração, estuda a pauta, e tudo mais que um jornalista deve ser. Percebi que, já que não vou mudar o mundo, posso ao menos levar mais leveza para as pessoas que ainda leem jornal, revista ou sites bacanas. E a cultura nos dá isso: a tal da leveza que precisamos cada vez mais, e ainda um conhecimento 'fora da caixa'.

Outro dia me disseram que eu não preciso provar nada para ninguém. Mas eu sempre precisei provar para mim mesma que o que faço não é menor, nem menos importante. Caminhamos para um mundo onde a cultura está sendo varrida para baixo do tapete porque as pessoas acham que ela não é relevante. Pois bem: ela é! E que legal que a cultura também pode ser mais divertida do que outros assuntos que lemos por aí. Isso não faz de nós, que trabalhamos com cultura, pessoas alienadas.

Então, desculpem, o que eu faço não é qualquer um que faz. É, sim, mais legal do que muita gente faz. E nem por isso é menos importante. #cultura #resistencia #jornalismocultural

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