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sábado, maio 16, 2020

Saco cheio

Mais de dois meses em quarentena voluntária. Não vejo a cara da rua. Estou esgotada. Física e emocionalmente. Abandonei os exercícios para os joelhos faz duas semanas. Nem alongamento estou fazendo. Não tenho rotina. Cuido da família, limpo a casa, higienizo tudo, e depois higienizo tudo de novo, trabalho, choro, faço doações, faço compras online, brigo com o banco, ouço umas lives (só ouço, não vejo). Assisti três filmes até agora, o primeiro levei quatro dias para concluir. Não li um livro, não fiz cursos, não fiz happy hour virtual, não bebi nada alcoolico, não comi chocolate. Consegui comer umas castanhas e biscoito Passatempo, porque a prioridade é comprar o que realmente precisamos.
Às vezes durmo bem, mas tem noites que durmo mal. Até porque o som alto, o pagode, o churrasco e o baile funk continuam ao meu redor. Impossível dormir com tanto barulho. Mantenho a meditação, mas não faço mais ioga. Ouço quem precisa ser ouvido e tento ajudar quem precisa de ajuda. Continuo com fé e esperança, mas estou muito, muito cansada. Eu sabia que não seria fácil, só não imaginei que fosse tão doloroso. Porque dói, dói a alma ver gente insistindo em sair de casa sem necessidade, se recusando a usar máscara, fazendo carreata em frente a hospital ou pegando sol em suas praias particulares e aglomeradas que agora se localizam nas áreas de lazer dos condomínios.
E, por favor, não me digam que vai passar. Porque não vai passar enquanto vidas forem negociadas como se não tivessem valor. Não vai passar enquanto as pessoas insistirem em falar de política quando deveríamos estar unidos para salvar vidas. Não vai passar enquanto eu tiver que explicar o que não precisaria ser explicado. Não vai passar enquanto continuarem com esse discurso de que a economia vem em primeiro lugar. Será que as pessoas ainda não perceberam que morto não faz compras, e que estão caindo dois aviões por dia no Brasil!?
Mas é isso, como aprendi na terapia - que continuo fazendo para surtar o menos possível - eu faço a minha parte. Faço por mim, pela minha mãe, pelo minha cachorrinha, pela minha família, pelos meus amigos, pelo meu povo, pelo meu país, pelo meu planeta. Faço pelos que realmente precisam sair de casa. Faço porque sei que é o certo. É o que eu acho. Não sou dona da verdade, mas tenho bom senso. E se a maioria não vai mudar, e se o mundo vai continuar caminhando de maneira tortuosa, eu só lamento. Porque eu já mudei.
Eu, que sempre planejei tudo, não consigo mais pensar no amanhã. Não consigo fazer foto sorrindo na quarentena porque não cheguei a esse nível de desprendimento. Eu estou triste, eu sofro o sofrimento dos outros, e eu tento manter minha sanidade mental para seguir a vida - porque a vida está seguindo fortemente, com problemas que preciso resolver. Então eu rezo, choro, respiro fundo e sigo adiante. Em casa. Cansada. Esgotada. Mas com fé, que é o que me mantém em pé todos os dias. Mas tá puxado.

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