terça-feira, junho 16, 2020
Cansaço
A quarentena chega ao terceiro mês. São mais de 90 dias em casa, olhando a rua pela janela ou, no máximo, pelo portão do condomínio. Cheguei à calçada duas vezes, e já foi terrível. No começo eu me sentia muito tensa, nervosa até para receber compras do delivery. Muita coisa burocrática para resolver - mais para os outros do que para mim - e ainda a insegurança de ter ou não trabalho. Assim foi o primeiro mês.
No segundo mês veio o cansaço psicológico. Eu já tinha me acostumado a rotina de limpar, limpar e limpar, higienizar tudo, higienizar de novo e de novo e de novo. Já conseguia até trocar palavras com os entregadores, sem ficar em pânico. Foi o mês de resolver as questões médicas, possíveis de serem resolvidas à distância.
A entrada do terceiro mês vem o cansaço físico. Dói a hérnia e os joelhos. O corpo sente o peso de tanto tempo sem caminhadas. A mente já não processa as coisas direito, e muito do que faço é mecânico. Já nem rezo mais ao lavar as mãos, virou uma rotina de ficar lá lavando e lavando por um minuto. E, por mais que eu tente ficar calma, por mais que eu procure não me estressar, volta e meia eu me estresso. E sem perceber já começo a gritar, as veias do pescoço saltam, as da testa também, e eu perco completamente o controle.
Aí eu irrito quem está a minha volta. Acabo sendo grosseira com quem não precisa e não merece. Não consigo ter empatia, não consigo ser humilde, não consigo ser nada. Depois que o surto passa, eu choro arrependida, eu me sinto mal por não conseguir amenizar meus nervos. Então eu penso do que adianta rezar, pedir, mentalizar, meditar, se não consigo nem me controlar?
É quando me sinto péssima. E quero ir embora, quero ficar sozinha, mas também não quero. Quero gritar mas também não quero. Quero paz, quero ficar calma, quero apenas não perder o controle de novo.
Eu peço desculpas pelo meu estresse, pelo meu mau humor, pelo meu medo e pelo meu nervosismo. Eu juro que tento melhorar, mas não sei se vou conseguir. Mas vou continuar tentando.
A quarentena chega ao terceiro mês. São mais de 90 dias em casa, olhando a rua pela janela ou, no máximo, pelo portão do condomínio. Cheguei à calçada duas vezes, e já foi terrível. No começo eu me sentia muito tensa, nervosa até para receber compras do delivery. Muita coisa burocrática para resolver - mais para os outros do que para mim - e ainda a insegurança de ter ou não trabalho. Assim foi o primeiro mês.
No segundo mês veio o cansaço psicológico. Eu já tinha me acostumado a rotina de limpar, limpar e limpar, higienizar tudo, higienizar de novo e de novo e de novo. Já conseguia até trocar palavras com os entregadores, sem ficar em pânico. Foi o mês de resolver as questões médicas, possíveis de serem resolvidas à distância.
A entrada do terceiro mês vem o cansaço físico. Dói a hérnia e os joelhos. O corpo sente o peso de tanto tempo sem caminhadas. A mente já não processa as coisas direito, e muito do que faço é mecânico. Já nem rezo mais ao lavar as mãos, virou uma rotina de ficar lá lavando e lavando por um minuto. E, por mais que eu tente ficar calma, por mais que eu procure não me estressar, volta e meia eu me estresso. E sem perceber já começo a gritar, as veias do pescoço saltam, as da testa também, e eu perco completamente o controle.
Aí eu irrito quem está a minha volta. Acabo sendo grosseira com quem não precisa e não merece. Não consigo ter empatia, não consigo ser humilde, não consigo ser nada. Depois que o surto passa, eu choro arrependida, eu me sinto mal por não conseguir amenizar meus nervos. Então eu penso do que adianta rezar, pedir, mentalizar, meditar, se não consigo nem me controlar?
É quando me sinto péssima. E quero ir embora, quero ficar sozinha, mas também não quero. Quero gritar mas também não quero. Quero paz, quero ficar calma, quero apenas não perder o controle de novo.
Eu peço desculpas pelo meu estresse, pelo meu mau humor, pelo meu medo e pelo meu nervosismo. Eu juro que tento melhorar, mas não sei se vou conseguir. Mas vou continuar tentando.
